segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O MITO DO MAESTRO

.
Toda época inventa heróis. O guerreiro, o amante e o santo mártir fascinaram as mentes medievais. Os românticos cultuaram o poeta e o explorador; revoluções industriais e políticas instalaram o cientista e o reformador social num pedestal. O advento dos meios de comunicação de massa permitiu a fabricação de ídolos sob medida para diferentes grupos de consumidores: cantores de música popular para adolescentes, deusas de cinema para os perdidos de amor, personagens inconsistentes de telenovela para os telemaníacos, campeões do esporte para os mais energéticos, terroristas seqüestradores de avião para os oprimidos do mundo, filósofos pop para as classes tagarelas.
.
Heróis funcionam como uma válvula de segurança na panela de pressão social. Permitem a baixotes de óculos identificarem-se com Silvester Stallone em vez de dar um soco no chefe, e a mocinhas recatadas evadirem de sua castidade devaneando a sexualidade ostensiva de Marilyn Monroe e Madonna. Esses sonhos são desvinculados de qualquer realidade concreta. O pôster com o retrato do líder guerrilheiro sul-americano Che Guevara, outrora ubíquo nos quartos, não significava revolução juvenil incipiente nos subúrbios de classe média. Como força política, Guevara era uma fonte de irritação secundária para regimes distantes. Como ícone, contudo, dava vazão às frustrações e anseios de jovens afluentes do mundo ocidental decadente.
.
Esses heróis populares são literalmente míticos, carecendo de substância ou sendo inteiramente fictícios. Os deuses culturais não são diferentes. Andy Warhol e Jeff Koons demonstraram que um artista não precisa ser propriamente original para ser celebrado; o nome de Karlheinz Stockhausen é conhecido por amantes da música que jamais ouviram uma nota por ele composta. A fama desses homens reside menos em algo que tenham inventado do que no mito que representam.


.



(Norman Lebrecht, Igor Symanski e Blisset)

Nenhum comentário:

Postar um comentário